sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Música Italiana

Quando eu estava saindo da casa de minha amiga Anna no sábado tocava na casa de algum vizinho uma triste canção em italiano. Num grave que na hora pareceu-me interminável entrevi uma dose boa de tristeza para poder-se cantar daquela maneira.
Aos meus pensamentos mesclou-se também uma trilha sonora só de música italiana e fiquei desde aquele dia pensando nos meus cantores preferidos: Rita Pavone, Bobby Solo, Claudio Baglioni... que músicas mais melodiosas!
Em casa fiquei ouvindo 'non é facile avere 18 ani' na voz da Rita Pavone, tão aguda e tão suave, que combinação maravilhosa, e tão forte também que ficava até divertido quando ela levantava a voz e mesmo quase gritava, lindo.
A alma por trás da voz, algo que hoje não se faz da mesma maneira na música popular. Os italianos não em nenhuma vergonha em levantar bem alto o timbre da voz e por que tanto receio afinal? Talvez seja falta de confiança ou abdução cultural, já que os americanos não fazem isso, é algo mais latino mesmo. É nessas horas que tem de se considerar que nada no mundo dá mais prazer que beber nas águas da nossa tradição e dos nossos costumes: nenhuma água é mais fresca, nem mata a sede com mais eficiência.
Os italianos carregam essas tradições sem nenhuma obrigação, é por natureza e muito decidida, diga-se para reafirmar. Talvez seja o idioma deles. Já fiquei reparando nas vogais mais alongadas, no tom musical. Qualquer um que assistir ao 'cine paradiso' vai perceber como o personagem Alfredo tem um tom musical na voz, eu acho que o ator não bolou aquilo para a atuação (sem desmerecer seu excelente trabalho nesse filme), é de fato o jeito de falar.
Ocorreu-me agora aliar as duas artes em que os italianos se destacam: o cinema e a música, ou seja, as trilhas sonoras dos filmes italianos. São sempre sutis, ao contrário do que alguém mais apressado poderia pensar por serem italianos. Daí entrevê-se sua natureza: uma grande sensibilidade para fazer algo realmente belo, não precisa ser sempre efusivamente emotivo e exagerado, basta que seja tocante, puro, verdadeiro, profundo. Acho que a música italiana é exatamente assim. Tranqüilamente escuto as canções sobre incêndios, montanhas e pássaros e imagino que não haveria outro jeito de se fazer música popular. Afinal, a cultura popular através da música tem esse brilho notável, que na música popular da Itália fica muito claro.
Ao instalar-se nos meus pensamentos naquele sábado minha vida tornou-se uma música italiana por esses dias e tenho na imaginação dançado comigo mesmo como um bobo pela rua, ou mesmo pelo meu quarto, imaginando essa canção sem parar dentro de mim, claramente contaminado por aquela paixão e jogado dentro das minhas. Na canção há um coro bem discreto para fazer maior o ápice do timbre do cantor e violinos também ao fundo para que tudo fique bem dramático, mas nunca chega a ser tolo, vai-se ao extremo de carinho, tragédia, ternura, fatalismo, tudo com muita paixão.
Fico aqui então, queridos amigos, admirando a sonoridade ímpar do idioma italiano, formalmente cantado, nessas melodias cheias de idéias singelas e simples. Quem sabe agora uma outra canção menos exageradamente exaustiva, mas igualmente italiana?