segunda-feira, janeiro 17, 2005

Diplomatas analfabetos

Por influência direta do Ministro das Relações Exteriores, o exame de admissão ao Instituto Rio Branco, academia de formação da diplomacia brasileira, não terá a exigência de domínio do inglês.
Numa velada posição antiamericanista, o ministro Celso Amorim justificou a nova posição chamando o inglês de 'idioma elitista'.
Qualquer um que já estudou inglês, sim, qualquer um mesmo, sabe que é um idioma fácil de se aprender, com uma estrutura gramatical muito simples e um vocabulário restrito se comparado a idiomas modernos e mais desenvolvidos, como o português ou o alemão.
Elitista, portanto, não seria o melhor advetivo para a língua de Shakespeare. Mais apropriado seria chamá-lo de 'pouco sofisticado'.
Diplomacia significa precisamente a arte ou empresa de conciliar interesses e amenizar conflitos visando beneficiar discretamente quem se representa, mas a posição que o Itamaraty adotou com essa medida trái a própria natureza da atividade que se propõe a desenvolver.
Sem fazer menção à defesa dos Estados Unidos, o inglês é usado internacionalmente em substituição ao francês desde a segunda metade do século passado e seria ignorância não reconhecer isso.
O Itamaraty considera que retirar o inglês do concurso de admissão é torná-lo mais justo, mas é preciso lembrar que a função de diplomata tem de ser exercida por pessoas preparadas. Não pode-se admitir um diplomata que não fale inglês, ou seja, a medida é um tiro no pé: o país terá de gastar no treinamento desses futuros diplomatas que ainda não falam inglês, uma habilidade que não pode ser encarada de outra maneira senão como pré-requisito para a profissão.
Mas, como diz a máxima diplomática que 'a restrição dos efeitos danosos é o primeiro e mais importante passo para sanar o problema', o Itamaraty não irá se pronunciar mais sobre o fato e deve manter esse exame por mais um ano e depois disso, discretamente como exige a profissão, voltar a exigir conhecimentos avançados em inglês.
A única inadequação no exame do IRB não é precisamente a exigência de inglês, mas a não exigência de espanhol, já que participamos de uma comunidade sulamericana de nações na qual apenas o Brasil não tem o espanhol como língua oficial. Além disso, somos cercados de países de fala hispânica sobre os quais a população sabe muito pouco. Essa sim, a questão do monopólio de influência cultural americana é grave, afinal, quais são as bandas de rock chileno que são conhecidas no Brasil? E os filmes argentinos? Talvez saibamos sobre os grandes cantores uruguaios de tango, como Carlos Gardel? Se a resposta para todas essas perguntas for 'não sei', então meu amigo, você compreende melhor que o ministro Celso Amorim que o inglês não é o problema no exame de seleção do Instituto Rio Branco.