terça-feira, janeiro 04, 2005

Queimando mais alto

Ontem conheci uma colega que passa por mim nos corredores há quase um ano. Apesar de ser uma mulher interessante e bonita, nunca tinha me preocupado em abordá-la visando a cordialidade no trabalho que fosse.
Nas frases curtas e curiosas dela lembrei-me bem depressa que meninas assim falam cifrado, adoram enigmas. Eu, em frases mais longas e não menos curiosas, conduzi amenamente a conversa toda a um bom termo, deixando minha caricata impressão de ser um bom rapaz, evitei convidar para beber qualquer coisa, ainda viva portanto minha antissocialidade.
O prazer de conquistar é imenso, mas quase sempre não vale o esforço. Bom é conquistar o coração da mulher que se ama várias vezes e ver seu amor diferente em cada vez, buscando nos meus olhos o mistério andarilho e pedinte de ser outro noutro dia sem deixar de ser eu mesmo.
E o amor renovado dela queima mais alto e ascende aos céus de poesia o ideal de que foi racionalizado, na minha esperança pobrezinha e tola.
Percebe-se que o amor é racional quando aos beijos seguem-se sorrisos, mas o mundo ainda gira e nem tudo fica inanimadamente paralisado para assistir ao carinho. Mas também não defendo beijos de olhos abertos, uma descarada demonstração de absoluta falta de paixão, o que o ciúme natural de todo amor não admite sem sofrimento.
Seria absurdo propor um amor racional talvez porque a razão está muito longe do sentimento no mais das vezes quando o sentimento é inflamado. Mas é tão bom abraçar sem projetar naquele abraço uma vida inteira com o peso indestritivelmente bruto de sustentar o sonho alheio de felicidade perene.
Naquele instante perfeito foi o amor quem disse: 'sorria pra mim'. Daí valeu ter de aturar as meninas que fazem dúzias de rodeios, insitando para se fazer entender e enquanto isso tentam claramente seduzir, criando os famosos enredos paralelos. Valeu ter de aturar tanto sorriso forçado e outros mais naturais e menos bonitos. Acho que a razão de tantos erros foi fazer do amor presente o melhor de todos, livre de qualquer engano, pronto para ser ainda mais, mais vivo que os vivos desejos dele.
Grito junto com o Belchior: 'eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês!'.