quarta-feira, janeiro 05, 2005

Pragmatismo

Não há porquê evitar perguntas e respostas necessárias quando o coração decide bater mais rápido. Precisamente ser franco e pragmático encurta caminhos, seja por bem, seja por mal.
O caso é que no pragmatismo por vezes vai muito juízo de valor, ou seja, a franqueza pragmática é encarada como um desabafo nunca agradável.
Tenho lido poemas encantadores nesses últimos dias de uma garota portuguesa. Um talento, sem dúvida. Versinhos tão carinhosos que lembram os meus nos melhores momentos de poesia que tive. Docemente ela levanta bem alto seu romantismo e mergulha num mundo de imagens inteligentes e envolventes que parecem interagir com o leitor. Às vezes ela imagina um verso rimado e o espantoso é que a graça da composição toda cresce muito. Eu queria muito alertá-la, dizer a ela 'não faz isso', 'dá meia volta', mas minha sede daqueles versinhos dela não deixam.
Pragmaticamente, ela terá uma vida de frustração e tristeza, como todas as suas antecessoras. Levando em conta a história de vida de Florbela Espanca e de como as duas projetam suas expectativas nos versos. Não que toda poetisa lusitana seja uma potencial Florbela, (infelizmente sob o ponto de vista da qualidade da produção), mas essa menina tem em si um astro que flameja e que iluminou os meus olhos críticos com aquela leveza despretensiosa e completa de beleza.
Lembra muito um encontro de rios a poesia dela. Como as estrofes magicamente se irmanam sem nenhuma obrigação e até quando a técnica impede uma completa interação, no fim dão as mãos e se desculpam com o leitor e eu quase babando sou obrigado a elogiá-la sem qualquer pudor.
Noutro dia, compulsoriamente mostrei um poema dela para a Potes que ficou deslumbrada, com os olhinhos a brilhar e naquele instante eu vi que não estava subvertendo nada. Potes chegou a agrader-me por mostrar-lhe o poema! Fato inédito, admito.
Faço votos que muitos rapazes quebrem o coração dela, francamente. O amor reprime os sentimentos bruscos.