Ontem estive no Alto dos Passos quase à noitinha. Saí de casa às 19hs e fui direto, como um namorado fiel voltando pra casa, nem olhei pro lado oposto da calçada, segui firme pra ver qualquer filme no Alameda: o que 8 horas seguidas de estudo não fazem com um ser humano?
Subi a Rua São Mateus até a Monsenhor Gustavo Freire, onde dobrei à esquerda e comecei a olhar dentro dos botequins daquele lado da rua pra confirmar o traço marcante e bonito de São Mateus: os botequins são o recinto onde as gerações se encontram! Rapazes da minha idade assistindo à rodada do Campeonato Brasileiro ao lado de senhores com mais de 60 primaveras, tudo na mais santa paz, tirando o fato de que entre os mais novos há muito poucos botafoguenses.
Mais à frente, do lado direito da rua, o ‘quiosque da praia’ animado com o samba de fim de domingo, sem futebol, com com um cavaquinho afinado, espalhava pelas imediações aquele lamento inteligente dos sambistas antigos, cantavam uma música do Chico Buarque: ‘quem te viu, quem te vê’.
E embalado naquela alegria toda, com aquela alma tão boa e tão generosa de São Mateus, cheguei à quase esquina da Rua Camões, onde topei com uma adolescente de 12 anos que estava correndo em disparada, sabe-se lá Deus por quê! Aperecia que o pai tinha visto seu beijo com o namoradinho e ela corria pra combinar a defesa com a mãe!
Alto dos Passos dos adolescentes! Lá no Alameda era o mesmo: a galera de 12 a 18 tomando sorvetinho, sentada nos bancos com uma sanha de flerte difícil de superar.
Como sempre, vê-se conhecidos lá no Alameda no domingo, mas raramente amigos e ontem vi conhecidos, aqueles que se cumprimenta com a cabeça e um sorriso leve.
Durante o filme consegui desligar-me daquele ambiente todo pra rir um pouco de uma mulher decadente, insegura e feia na seqüência de ‘O diário de Bridget Jones’, o ‘Bridget Jones: no limite da razão’. Os ingleses são mesmo ótimos!
Fim de filme: donzela (bondade minha) com mocinho e música feliz! Filmes sobre ingleses produzidos pelos americados: poucas coisas tem tantos esteriótipos ofensivos e engraçados, parece até que a síndrome dos americados de abordar assuntos delicados desaparece, como a fragilidade feminina descarada, porque afinal são os ingleses!
Depois de sair do Alameda já não levava comigo aquele clima bobo, estava imerso de novo no ambiente Alto dos Passos e em seguida em São Mateus, onde dentro do Bar São Mateus um rapaz convencia uma moça a escutar música no apartamento dele e dois velhos choramingavam a derrota do Vasco da Gama (nosso drama comum).
Viva o cinema! Duas horas de risos falhos, dramas mentirosos, efeitos especiais e música por encomenda! Uma informação final: em nenhuma cena vi uma cara tão assustada e ao mesmo tempo tão feliz quanto à da menina da rua Camões, apesar da Renée Zellweger ter tentado duas dúzias de vezes.