terça-feira, dezembro 21, 2004

Irmandade

Vão longe os anos que estivemos nas mesmas frentes de batalha e lutamos com cólera de paixão. Na minha adolescência tão cheia de ideal, ensinaram-me que a arrogância dificulta os processos: antes eu não sabia disso...
Mais que isso, descobri na amizade verdadeira e na defesa do ideal um aliado poderoso contra a ansiedade de buscar um sentido para todas as coisas: saí moldado com a mais cara das armaduras e a mais afiada das espadas da fábrica de heróis.
Mas hoje já não sou mais um herói, não vou salvar ninguém de nenhum destino trágico já que não quero privar ninguém de aprender. Dentre os meus sentimentos há lugar para a Justiça e para a Paz e acho que essa herança é o melhor dos quinhões que se poderia receber.
Ontem vi o rosto do meu ideal de liderança! Grande Roberto, quantos anos!
A boca gulosa do tempo mastigou de uma vez só tudo aquilo que foi sem destruí-lo, mas transformou-o noutra espécie, na das coisas mutantes, tudo muda.
Longe, tão longe de agora, depois de eu me transformar nesse rapaz sério e falante, tenho os olhos fixos no horizonte e sem mais querer degolar os impostores: deixe os bobos alegrando a corte. Hoje os dias são magros e retirei toda magia do meu quarto... não acredito mais nisso.
Recebi um convite do reino dos céticos para ser coroado Rei! Pois é! Isso porque acabei de tirar o título de pós-doutor em Tecnocracia pela Universidade Católica dos Self-made-men com distinção!
Mas não maldigo a treva, nem a argila que obstruía meus ouvidos, as marés vieram e meu transatlântico pode continuar explorando a rota Angra-Itajaí e fazer a felicidade das jovens recém-divorciadas milionárias que constantemente são objeto do meu flerte mais cômico!
Então, depois de todo esse blablablá... o grande Roberto vai pra Curitiba, o senhor doutor aqui vai para a linda e romântica cidade de Belo Horizonte e esse tempo tão longo e tão importante para formar em mim a certeza do amor pela beleza de tudo, pela virtude, pelo ideal, pela vitória, todo isso cristaliza agora.
Jamais deixarei de ser um incurável estóico. Sim, sou isso, um estóico! E assim, redimido do alto título de tecnocrata, guardo comigo, escondido nalguma parte invisível aos outros, a nossa fé.