quinta-feira, dezembro 02, 2004

Compenetrado nos gibis

Há três semanas não pára de chover ou fazer mau tempo. Os dias feios são mais longos, como são ainda mais chatas, as chatas feias.
Penso nas pobres crianças que adoram ir jogar bola e tem de ficar em casa à mercê da rede globo... muito cruel. O meu sentimento de solidariedade humana não quer pra eles o destino que eu tive!
Acho que foram os gibis que me salvaram, em especial os do Cebolinha! Grande Cebolinha, com aquela troca do ‘r’ pelo ‘l’ e aquele companheirismo com o Cascão combinado com a ambição deslavada de ser o dono da rua! Também o Tio Patinhas é uma grandissíssima inspiração na infância, afinal, sucesso é a melhor das influências!
Hoje não leio mais gibi, quando muito uma tirinha de jornal que nem tem tanta graça assim. Mas ainda encontro na vida personagens que saíram de gibis, como é o caso de um professor de inglês que eu tive.
O sujeito que é nascido na charmosa cidade de Leopoldina, passou a adolescência em Nova Iorque, para onde a mãe emigrou meses antes com o sonho latino de ir para o primeiro mundo. Lá passou pelas mais variadas experiências, inclusive a de guardador de carros de luxo num restaurante caro, onde gostava de fazer gracinhas com os possantes, e depois mentia para o dono com o maior cinismo do mundo, só menor que o seu amor pelo automobilismo e pela aventura.
Crescendo com essa personalidade noir, nem bom, nem mau, treinava karatê em plena febre de ‘Karatê Kid’ e escutava thriller. Depois de mais crescido, por algum motivo que ele fez questão de não revelar, voltou para “a terra que lhe serviu de berço”, como dizia Dias Gomes, fazendo juras de amor e fidelidade eterna ao Brasil, que se não tinha dinheiro, ao menos ‘é quente no verão e no inverno’, nas palavras do ex-emigrante.
Aqui, dedica-se desde sempre ao ensino do Karatê e do idioma inglês. Quanto ao primeiro não cabe falar da sua competência, mas quanto ao segundo podemos dizer que serviria como atividade paralela, jamais como talento maior da vida...
Apesar disso cabe acrescentar que o meu ex-professor é uma daquelas pessoas que não passa da adolescência! Desenha quadrinhos, fala de si mesmo o tempo todo, adora brinquedos, sendo que atualmente seu brinquedo é o carro, que tem luz azul no fundo externo e mais mil e um acessórios extravagantes, o mais notável é o duplo cano de descarga. Talvez seu amor maior nem seja o carro, mas a esposa para quem fez uma música mixada por outro professor lá da escola que pode ser classificado como uma mistura de mau gosto com carência de cão manhoso.
Enfim, esse professor era um chato de galocha! Desses que só se encontra nos quadrinhos, sendo o amigo do personagem central e fazendo um monte de besteiras só pro protagonista poder mostrar que é bonzinho!E só depois dele não ser mais meu professor, nesses dias tristes do início de dezembro, percebi que esse ilustre personagem saído dos quadrinhos é mais uma prova de que a arte imita a vida, mas não a substitui nunca.