Todos os dias, no ponto onde tomo o circular, tenho como colega de espera uma menininha muito linda, de uns 5 ou 6 anos, chamada Alice.
Trazida pela avó e sempre em companhia de um amiguinho de escola e a sua mãe, ficam todos lá esperando chegar o ônibus. As duas mulheres conversam sobre banalidades, e as crianças ficam rindo e brincando.
Alice é uma criança adorável, não sei se porquê o seu jeito lembra muito o de minha prima Lívia, a quem tenho em estima como minha irmãzinha, ou se porquê lembra as fotos de infância de Ana Rita, que também é muito querida. O fato é que não consigo resistir às suas peripécias, aos sorrisos, à rapidez e graça com que corre para subir os degraus e chegar logo ao primeiro lugar do coletivo!
Ancestralmente gostamos de crianças, mesmo com os protestos dos miseráveis egocêntricos. O jeito inocente, a candura e o afeto inato delas amolece qualquer coração de pedra que algum dia recebeu carinho e mesmo os que dizem que não querem ter filhos, no fundo da alma sabem que uma criança traz à memória nossa mais doce e pura natureza e prova-nos que nalguma medida fomos autênticos.
Nunca é demais lembrar que os inimigos do café vivem dizendo que seu sabor é amargo. O que acontece é que nós nos acostumamos com o gosto, nosso paladar ao café, portanto, fica viciado. As crianças provam isso muito bem, pois, quando experimentam, falam depressa que o gosto é ruim, forte e amargo. E o pior é a artimanha dos pais pra viciar seus filhos em café! A técnica é a seguinte: sempre tomam puro na frente dos pequenos e ministram a eles pequenas doses misturadas com leite. Dia a dia a proporção de café vai aumentando, até chegar à igualdade de partes, ou ao suportável para não cuspir a mistura.
Quando estiver no colégio, o rapazinho descobrirá logo que se tomado puro, seus efeitos são ainda mais flagrantes: disposição, concentração, alerta. Com o passar do bimestre letivo, ele descobrirá que café e estudo às 2 da manhã são irmãos siameses: bingo, teremos já um tomador de café pra vida toda, apesar de originalmente, ter sido uma criança que não gostava nada do gosto estranho do café.
Imagino a linda Alice, tomando seu café com leite antes de sair com a avó para ir tomar o ônibus... Será que ela ficará como todas as outras meninas que se preocupam mais em parecer do que em ser, será que ela se revelará uma romântica inveterada quando vier o primeiro amor, será que seu ímpeto a levará para além de qualquer destino previsível? Sinceramente, não ouso responder a nada disso, mas do fundo do coração sei que assim como o hábito do café, outros hábitos cobrirão sua pele como vespas agressivas contra o inimigo...Pensamentos fatalistas! O melhor é vê-la agora, na infinita graça dos seus sorrisos que fazem da minha manhã uma promessa de alegria e admirá-la anonimamente como a linda filha que eu poderia ter e que me faria mais apaixonado do que nunca.